“Pais podem influenciar na seletividade alimentar das crianças”, diz especialista

Letícia Durski By Letícia Durski

Não é nenhum segredo que as crianças pequenas, normalmente, não têm um paladar muito diverso. Uma textura ou um cheiro diferente, por exemplo, podem ser o suficiente para os pequenos fazerem caras feias na hora das refeições. Tenha calma, é normal que eles manifestem alguma estranheza na hora de comer certos alimentos. A seletividade alimentar é uma queixa muito comum entre os pais. Pesquisas realizadas pelo Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares (CENDA) mostram que de 3 a 5 mães de cada 10 dizem que o filho tem ou teve problemas importantes de alimentação. Mas, afinal, por que isso é tão recorrente?

“A seletividade alimentar é algo inerente à criança e tem vários motivos, a participação dos pais é com certeza uma delas”, explica Carla Deliberato, fonoaudióloga, especialista em motricidade oral com experiência em casos de recusa e seletividade alimentar. Muitos acreditam que e a recusa por determinados alimentos pelos pequenos é uma fase e que isso passa. No entanto, segundo a especialista, isso nem sempre é verdade e os responsáveis os pelas crianças precisam, sim, dedicar tempo e atenção ao momento das refeições.

Claro que, com a correira do dia a dia, nem sempre é fácil fazer isso. Mesmo sem ter a intenção, os pais podem acabar negligenciando o momento de comer com os filhos. Mas, para Carla Deliberato, todos os esforços são válidos. Durante o desenvolvimento do paladar da criança, tudo que ela experimenta é novidade e é crucial que os pais ofereçam alimentos saudáveis para as crianças, mesmo que elas façam birra e se recusem a comer. “É necessário introduzir a refeição ao menos 12 vezes, apresentando para a criança o mesmo ingrediente preparado de formas diferentes para ter certeza de que ela realmente não gosta”, comenta a especialista.

A tecnologia também pode atrapalhar nos momentos de alimentação. Um erro comum é acreditar que as telas são uma boa alternativa para entreter os pequenos na hora da refeição. Mas, para a especialista, esta prática pode ser perigosa. “Quando a criança está na frente de uma tela, toda a concentração está naquilo que ela está vendo e ouvindo, quando na verdade deveria estar com o foco total nos alimentos que está consumindo”, ressalta a fonoaudióloga.

Como lidar com a seletividade alimentar?
Existem várias medidas que os pais podem adotar para ajudar os pequenos a superarem a seletividade alimentar e expandirem o paladar, tornando os momentos das refeições mais tranquilos e agradáveis. Carla Deliberato separou algumas dicas valiosas que podem ser introduzidas no dia a dia. Confira!

Devagar e sempre

O primeiro passo é manter a cabeça fria. “Evite se estressar quando seu filho se recusar a experimentar novos alimentos. Tente apresentá-los de maneira criativa e divertida, como cortando em formatos engraçados. Seja paciente e continue oferecendo alimentos diferentes ao longo do tempo”, recomenda Carla.

Todo mundo para a cozinha

“Desde o preparo, até a refeição, é importante incluir as crianças em todos as etapas que envolvem a alimentação, pois além da familiaridade com o alimento, a prática reserva momentos incríveis e afetuosos em família”, afirma. Ela orienta que os pais deixem a criança tocar e mexer na comida. “Tudo deve ser uma descoberta agradável, independentemente dela gostar do alimento ou não. O importante é a criança estar disposta a interagir com os alimentos, manipulando, provando, cheirando, lambendo ou mordendo. É isso que desenvolverá o paladar dela e contribuirá para o aprendizado alimentar da criança”, ressalta a especialista.

Temperos como aliados

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a comida das crianças já pode ser temperada a partir de 1 ano de idade. Porém, Deliberato ressalta que os pais sempre devem priorizar temperá-la com ingredientes naturais, que garantam sabor e aroma ao prato. Temperos industrializados não são recomendados, devido à grande quantidade de sódio e conservantes, que não são nada saudáveis. “Comida sem sabor não é atrativa e ainda pode criar rejeição do alimento na criança. Na medida certa, o tempero é saudável e importantíssimo para desenvolver o paladar”, conclui Carla.

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