Tubarões viram comida em escolas e hospitais públicos do Brasil, com riscos à saúde e ao meio ambiente

Andrey Petrov By Andrey Petrov

Nas últimas duas décadas, um fato pouco discutido vem chamando atenção: o consumo de cação em instituições públicas do Brasil. Escolas e hospitais passaram a utilizar esse peixe como parte de suas refeições, com a justificativa de oferecer uma alternativa acessível e rica em proteínas. No entanto, especialistas em saúde e meio ambiente alertam para os riscos que esse hábito representa tanto para o organismo humano quanto para a preservação dos ecossistemas marinhos. O tema, que envolve gastos milionários, levanta dúvidas sobre a real segurança desse tipo de alimento.

Quando analisado sob a perspectiva nutricional, o cação apresenta limitações importantes. Embora seja considerado fonte de proteínas, o peixe carrega substâncias que podem ser prejudiciais se consumidas com frequência, especialmente por crianças e pacientes hospitalares, que já possuem condições de saúde mais delicadas. A presença de metais pesados em espécies marinhas predadoras é uma preocupação constante, pois esses contaminantes se acumulam no corpo humano ao longo do tempo, provocando sérios danos à saúde.

Além dos riscos individuais, existe uma dimensão ambiental que não pode ser ignorada. O cação, muitas vezes, é obtido por meio da pesca de tubarões, prática que ameaça diretamente o equilíbrio marinho. Ao retirar predadores de topo da cadeia alimentar, toda a dinâmica oceânica é alterada, resultando em desequilíbrios que afetam diversas outras espécies. A continuidade desse ciclo impacta não apenas a biodiversidade, mas também as comunidades que dependem do mar para subsistência.

Outro ponto relevante é a falta de transparência sobre a origem do produto que chega aos pratos de estudantes e pacientes. Muitas vezes, não há informações claras sobre os métodos de captura, condições de transporte e qualidade do processamento. Essa ausência de controle rigoroso aumenta a incerteza em relação à segurança alimentar, deixando populações vulneráveis expostas a riscos desnecessários. A gestão ineficiente nesse processo desperta preocupações sobre a responsabilidade das autoridades públicas.

No aspecto econômico, os gastos ultrapassaram a marca de cem milhões de reais ao longo de vinte anos, montante que poderia ter sido destinado à compra de alternativas mais seguras e sustentáveis. Investir em espécies locais de menor risco ou incentivar a produção de peixes em sistemas de aquicultura controlada seria uma solução viável para atender à demanda sem comprometer a saúde da população e o meio ambiente. Esse cenário coloca em evidência a necessidade de rever prioridades no planejamento alimentar do setor público.

As escolas, que deveriam ser espaços de promoção de hábitos saudáveis, acabam reforçando um padrão de consumo questionável ao servir cação como refeição regular. Da mesma forma, hospitais, que têm a missão de recuperar pacientes, se contradizem ao incluir em suas dietas um alimento associado a potenciais riscos. Esse contraste revela falhas no alinhamento entre políticas de saúde e educação e as escolhas nutricionais oferecidas à população.

Diante dessa realidade, cresce a pressão por mudanças significativas. Organizações de preservação marinha, especialistas em nutrição e defensores da saúde pública pedem revisão imediata nos contratos de fornecimento de cação. O debate vai além da mesa e envolve uma discussão sobre responsabilidade governamental, ética ambiental e proteção das gerações futuras. É um tema que exige medidas concretas e eficazes, pois a manutenção da prática trará consequências cada vez mais graves.

Repensar o uso desse peixe nas instituições públicas do Brasil é um passo fundamental para garantir a segurança alimentar, proteger os oceanos e oferecer qualidade de vida à população. Mais do que uma questão de cardápio, trata-se de uma decisão estratégica que impacta diretamente a saúde das pessoas e a preservação do meio ambiente. A mudança de postura é urgente e pode representar um marco importante na forma como o país lida com suas políticas alimentares e ambientais.

Autor : Andrey Petrov  

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